sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Balanço ecologico mediocre

por HERVÉ KEMPF

A utilização dos biocombustíveis não permitirá sistematicamente limitar as emissões de gases de efeito estufa, e seria mais eficiente conservar o meio ambiente em bom estado: esta é a conclusão de um estudo que foi publicado na revista "Science", na sexta-feira, 17 de agosto, e co-assinado por Renton Righelato, da World Land Trust, uma organização que se dedica à conservação dos ecossistemas, e por Dominick Spracklen, professor da Universidade de Leeds (Grã-Bretanha).

O balanço ecológico dos biocombustíveis em muitos casos é criticado com base na comparação entre a energia gasta para produzí-los e aquela que eles fornecem. O saldo é geralmente bastante medíocre, e até mesmo negativo.

Mas a abordagem de Renton Righelato e de Dominick Spracklen é mais original: eles procuraram comparar as emissões de gás carbônico economizadas pelas culturas de biocombustíveis, com aquelas evitadas por outras formas de utilização do solo. Ao compilarem um grande número de estudos, eles compararam os balanços das diferentes formas de utilização do solo: a cana-de-açúcar, o trigo, o milho ou a beterraba, destinados à produção de etanol ou de diesel, a conversão de florestas tropicais em culturas, a conversão de culturas em florestas etc.

Por exemplo, a cultura do trigo para produzir etanol permite evitar, ao substituir o petróleo, entre 0,2 e 0,6 tonelada de gás carbônico por hectare por ano. Mas a conversão, nos Estados Unidos, de culturas em florestas de pinhos permite (por meio do crescimento das árvores) economizar 3,2 toneladas de gás carbônico por hectare por ano. Portanto, seria mais interessante dedicar-se à cultura de árvores do que cultivar cereais destinadas a fazer com que os automóveis possam andar.

A cana-de-açúcar possui o melhor rendimento dentre os biocombustíveis existentes: cerca de 2 toneladas por hectare de emissões evitadas. Mas isso é muito menos do que aquilo que a transformação de culturas em floresta tropical permitiria economizar (entre 4 e 8 toneladas por hectare), e muito mais desastroso se a cana-de-açúcar for desenvolvida por meio do desmatamento (que "custa" cerca de 200 toneladas por hectare, por ano de emissões).

No total, constatam os pesquisadores, se os dirigentes políticos quiserem mesmo privilegiar o balanço ecológico, "o melhor que eles teriam por fazer seria se concentrar na melhoria da eficiência energética dos combustíveis fósseis, de conservar as florestas e as savanas, e de restaurarem as florestas naturais e as pradarias em relação às terras que não são necessárias para a alimentação".

Além de tudo, esta abordagem apresentaria vantagens em matéria de biodiversidade e de saúde dos ecossistemas. [Le Monde 18/8/07]

Nenhum comentário: