sexta-feira, 31 de agosto de 2007

ARISTÓTELES

Viveu de 384 a 322 a.C. Foi discípulo de Platão, freqüentando a Academia por mais de vinte anos.

Inicialmente, concordava com o mestre; depois, passou a divergir e a construir o seu próprio pensamento.

Foi professor de Alexandre Magno, da Macedônia.

Abriu sua própria escola – o Liceu – dedicada às ciências naturais.

Escreveu sobre todos os assuntos conhecidos: foi a última enciclopédia unipessoal.

Fez a classificação científica de animais e plantas, que perdurou durante 2000 anos.

Sua Lógica (Órganon) é considerada perfeita; compõe-se de cinco volumes.

Outras obras importantes: Metafísica – 14 volumes, Fisica – 8 vol, Ética – 10 vol, Política – 8 vol, Sobre a Alma – 3 vol.

LÓGICA

Estudo sistemático dos conceitos (união, separação, definição, divisão e produção de conceitos novos).
Todos os conceitos ou idéias se organizam em dez grupos, chamados de 'categorias', que são:
1. substância, 2. qualidade, 3. quantidade, 4. ação, 5. paixão, 6. relação, 7. tempo, 8. lugar, 9. posição, 10. hábito.
Todos os conceitos têm compreensão (características) e extensão (aplicabilidade) em grau inversamente proporcional.
Todos os conceitos têm tb predicabilidade, ou seja, capacidade de atribuição, que se distingue em quatro modos (predicáveis):
gênero – elemento essencial não determinante;
diferença específica – elemento essencial determinante;
acidente próprio – elemento não essencial mas inerente;
acidente simples – elemento não essencial e casual.
A aquisição de novos conceitos faz-se de dois modos:
pelo raciocínio silogístico (silogismo) – de duas afirmações dadas, conclui-se necessariamente uma terceira;
por indução – reunião de observações simples acerca do mesmo fato para concluir uma afirmação de caráter geral.

METAFÍSICA

É a filosofia considerada em si mesma, o estudo do ser enquanto tal.
A palavra 'metafísica' foi criada casualmente por Andrônico de Rodes, ao classificar a obra completa de Aristóteles em: lógica, física metafisica, moral e política.

A metafísica estuda as causas primeiras e princípios primeiros das coisas. Estes são quatro:
material – substância ou essência;
formal – veículo ou substrato;
eficiente – fonte do movimento;
final – o pelo que e o para que, em busca do bem.
Não é um saber prático, mas teorético. Seu objetivo é unicamente a busca da verdade.
Pode ser chamada 'ciência divina' de duas maneiras: a) porque trata de coisas divinas; b) porque é possuída em grau supremo somente por Deus.
Faz-se distinção entre metafísica, física e matemática, a partir da distinção do ser, do seguinte modo.
SER MÓVEL (mutável) ,IMÓVEL (imutável)
FISICA Material, Imaterial
MATEMÁTICA , METAFÍSICA
A metafísica é filosofia primeira e teologia.

A CRÍTICA DO CONHECIMENTO

Antes de iniciar o estudo da metafísica, é necessário fazer a crítica do conhecimento, ou seja, mostrar que o conhecimento tem valor objetivo, ao menos em relação a algumas verdades fundamentais.
Prioridade dentre as verdades fundamentais: o princípio da não-contradição. (= “é impossivel que uma coisa possa ser e não ser ao mesmo tempo, considerada sob o mesmo ponto de vista”).
Este princípio é indemonstrável. Quem o rejeita cai ou no 'sensualismo' (conhecimento unicamente pelos sentidos – Protágoras) ou no dinamismo (conhecimento das coisas em transformação – Heráclito).
Não se pode dizer que todas as afirmações são verdadeiras nem que todas as afirmações são falsas, porque ambas as posições são contraditórias.
O princípio da não-contradição é a base do pensar, o fundamento último de todo o saber e de toda a realidade.

A ESSÊNCIA DAS COISAS

É a essência transcendente (=Platão) ou imanente (=pré-socráticos)?
Na teoria de Platão, as idéias são réplicas inúteis do mundo sensível. Além disso, como pode a substância de uma coisa estar fora dela?
Estando fora, elas não explicam nem o conhecimento nem o vir-a-ser das coisas. Por isso, a essência deve ser imanente.

A REALIDADE DAS COISAS – MATÉRIA E FORMA

A realidade é constituída de substâncias e acidentes. A substância é anterior ao acidente nos diversos aspectos: lógico, epistemológico, histórico e ontológico.
É o primeiro conceito implicado no estudo das categorias, pois todas as demais dependem dela.
Há três tipos de substância: materiais corruptíveis, materiais incorruptíveis, imateriais.
As substâncias materiais corruptíveis são a síntese de dois elementos separáveis: materia e forma.
O conceito de matéria se obtém pela análise da transformação substancial (o substrato que permanece após as mudanças), ou seja, do devir: “é evidente que alguma coisa daquilo que vem a ser já existia antes”, isto é, a matéria.
O conceito de forma obtém-se pela verificação daquilo que diferencia uma coisa da outra. É a razão pela qual a matéria se torna uma coisa determinada (substância). A forma é que determina porque uma matéria é isso e não aquilo.
Matéria e forma não podem existir separadamente, porque a sua desunião destrói a coisa. Essa obrigatoriedade é o sínolo (síntese - substância). Matéria e forma constituem todos os seres.
Em cada ser, a forma determina as características específicas e a matéria, a características individuais.

ATO E POTÊNCIA

Explicam o vir-a-ser das coisas. Aplicação extensiva das noções de matéria e forma.
Potência assemelha-se à matéria: propriedade indeterminada, passiva, capacidade de assumir qualquer determinação;
Ato assemelha-se à forma: propriedade determinada, finita, completa.
Ato e Potência são o resumo de tudo que acontece no universo. Obtém-se a partir da análise do vir-a-ser. Este só se torna possível se se admitir a potência.
Em Deus não há potência; Ele é ato perfeito, puro, motor imóvel.
Há dois tipos principais de ato:
ação – energia – mundo material;
resultado – entelecheia – mundo inteligível.
O vir-a-ser é a transformação da potência em ato, enquanto se opera = movimento, ato imperfeito, ainda não concluído.
Há 4 espécies de vir-a-ser:
mudança da própria substância (geração ou corrupção);
mudança da qualidade (alteração);
mudança da quantidade (aumento ou diminuição)
mudança do lugar (translação).

DEUS,EXISTÊNCIA E NATUREZA

Ele mantém de pé todo o edifício; explicação para a origem do movimento (motor imóvel), das causas (causa primeira), do vir-a-ser (ato puro).

Provas da existência de Deus: 1. o devir, atestado pela experiência; 2. graus de perfeição; 3. ordem das coisas.
O modo da operação divina é pelo pensamento, ato simplicíssimo e único. Porém, Deus não cria o mundo, não cuida dele, não o conhece. Não pode ter nenhum contato com a matéria.

A FÍSICA

A principal característica da physis, segundo Aristóteles, é o movimento, o vir-a-ser = todos os seres da natureza estão sujeitos à geração e à corrupção. Este é o objeto de estudo da física aristotélica.

O conhecimento dos fenômenos físicos se obtém por indução, a partir da experiência. A explicação para o vir-a-ser das coisas naturais se dá pela aplicação da teoria do hilemorfismo (matéria-forma). O vir-a-ser consiste em passar, a matéria, de uma forma para outra.
O vir-a-ser ocorre no espaço e no tempo. Espaço é a distância entre os corpos e tempo é a medida do antes e do depois. Ambos são acidentes da substância.
São quatro as principais formas do devir:
a) quantitativo – crescimento ou diminuição;
b) qualitativo – alteração;
c) lugar – translação;
d) substancial – geração (início da coisa) e corrupção (fim).
O fundamento último do devir é a teoria do primeiro motor (motor imóvel).

A PSICOLOGIA

Aristóteles é considerado o fundador da psicologia enquanto estudo da natureza humana, suas disposição e inclinações, faculdades e operações, processos de conhecimento e apetites (desejos), sensação, memória, raciocínio, sono...
O homem é também constituído de matéria (corpo) e forma (alma). A íntima união entre eles não permite afirmar que a alma é preexistente. Ela constitui uma unidade substancial com o corpo.
A alma, como forma do corpo, proporciona a este os modos de ser e de agir. Todos os seres vivos têm uma alma, entendida esta como princípio de atividade autônoma. Porém, a alma humana é diferente e superior por causa da sua capacidade de pensar (racionalidade), uma vez que animais e plantas não pensam.
A alma humana é uma só, mas exerce três funções:
vegetativa – conservação do corpo e da espécie, nutrição;
sensitiva – sentidos (5 sentidos externos e 3 internos) e desejos (concupiscível e irascível);
intelectiva – abstração (conceito), juízo e raciocínio (argumentação).
O conhecimento é produzido na alma, a partir das informações que lhe chegam pelos sentidos. A alma não traz conhecimentos preexistentes, é uma tabula rasa. Também não há reencarnação.
Pela função intelectiva, a alma trabalha com os dados fornecidos pelos sentidos e elabora os conceitos ou idéias universais (abstração). O intelecto divide-se em dois:
ativo – processa os dados sensíveis, construindo as idéias;
passivo – recolhe, organiza e conserva as idéias.
Aristóteles reconhece a imortalidade da alma, mas só de parte dela, provavelmente a que corresponde ao intelecto passivo. É uma questão que ele não deixa muito clara.

A ÉTICA

Enquanto ser racional, o bem do homem ou sua felicidade consiste na correta atuação da razão. A atuação perfeita da razão é a contemplação (teoria). Mas como o homem não é pura razão, é necessário harmonizar a contemplação com a satisfação das faculdades e dos sentidos. Ou seja, uma mistura dosada de prazer e racionalidade.

O meio para conseguir a felicidade é a prática da virtude. (ver definição de virtude – p. 102). Virtus in medio = evitar os extremos. A virtude implica ação da vontade e da razão.

Há dois grupos de virtudes: dianoéticas (5) – favorecem as faculdades intelectivas) e morais (4) – fazem o controle das paixões e desejos.

Destaca entre as virtudes a amizade: é tão importante que sem ela não se pode ter felicidade.

A POLÍTICA

Os homens se unem para formar a sociedade naturalmente, instintivamente (instinto gregário).
O Estado é uma criação da natureza humana e o homem é, por natureza, um animal político.
O objetivo da vida humana é a felicidade; o do Estado é facilitar a consecução da felicidade, através da promoção do bem comum.
Há formas de governo justas e injustas:
justas – monarquia, aristocracia, república;
injustas – tirania, oligarquia, democracia.
Defende a escravidão como necessária.

A ESTÉTICA

A arte se ocupa de algo que não faz parte nem da natureza nem da história = a beleza, algo que na natureza é sempre imperfeito.
É o prazer de ordem intelectual, não faz parte das atividades cognitivas e afetivas.
Há as artes instrumentais (tékne) e imitativas.
A arte tem função pedagógica e catártica (descarga da passionalidade, dos sofrimentos).

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