domingo, 3 de agosto de 2008

Texto I : A Origem da Filosofia

Aos meus alunos da E.E Lucinda Bastos.
Capítulo 1
A origem da Filosofia
A palavra filosofia
A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo
deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais.
Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja
o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de
Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria
plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou
amá-la, tornando-se filósofos.
Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a
festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali
estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as
disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois,
durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,
teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o
desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de
pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses
comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser
comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir
- não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer
competidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar,
contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de
Convite à Filosofia
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saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante
de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê -la.
A Filosofia é grega
A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e
sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de
suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio
pensamento, é um fato tipicamente grego.
Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão
antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes,
os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam
sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses
povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da
Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela
possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os
pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o
pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das
características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.
Vejamos um exemplo. Os chineses desenvolveram um pensamento muito
profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que
formam a realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang.
Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o
frio e a umidade; Yang é o princípio masculino ativo na Natureza, representado
pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as
coisas, que, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto,
é feito da atividade masculina e da passividade feminina.
Tomemos agora um filósofo grego, por exemplo, o próprio Pitágoras. Que diz
ele? Que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções
matemáticas produzidas a partir da unidade (o número 1 e o ponto), da oposição
entre os números pares e ímpares, e da combinação entre as superfícies e os
volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e
combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de
qualidades contrárias: quente-frio, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro, grandepequeno,
doce-amargo, duro-mole, etc. Para Pitágoras, o pensamento alcança a
realidade em sua estrutura matemática, enquanto nossos sentidos ou nossa
percepção alcançam o modo como a estrutura matemática da Natureza aparece
para nós, isto é, sob a forma de qualidades opostas.
Qual a diferença entre o pensamento chinês e o do filósofo grego?
O pensamento chinês toma duas características (masculino e feminino) existentes
em alguns seres (os animais e os humanos) e considera que o Universo inteiro é
Marilena Chauí
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feito da oposição entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes, de sorte que
o mundo é organizado pelo princípio da sexualidade animal ou humana.
O pensamento de Pitágoras apanha a Natureza numa generalidade muito mais
ampla do que a sexualidade própria a alguns seres da Natureza, e faz distinção
entre as qualidades sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da
Natureza, que, para ele, é de tipo matemático e alcançada apenas pelo intelecto,
ou inteligência.
São diferenças desse tipo, além de muitas outras, que nos levam a dizer que
existe uma sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu, uma sabedoria dos índios,
mas não há filosofia chinesa, filosofia hindu ou filosofia indígena.
Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos
que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas,
tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada
cultura européia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do
Brasil, nós também participamos.
Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os
princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética,
política, técnica, arte.
Aliás, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política,
monarquia, anarquia, democracia, física, diálogo, biologia, cronologia, gênese,
genealogia, cirurgia, ortopedia, pedagogia, farmácia, entre muitas outras, são
palavras gregas, para percebermos a influência decisiva e predominante da
Filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades
européias ocidentais.
É por isso que, em decorrência do predomínio da economia capitalista criada
pelo Ocidente e que impõe um certo tipo de desenvolvimento das ciências e das
técnicas, falamos, por exemplo, em “ocidentalização dos chineses”,
“ocidentalização dos árabes”, etc. Com isso queremos significar que modos de
pensar e de agir, criados no Ocidente pela Filosofia grega, foram incorporados
até mesmo por culturas e sociedades muito diferentes daquela onde nasceu a
Filosofia.
É pelo mesmo motivo que falamos em “orientalismos” e “orientalistas” para
indicar pessoas que buscam no budismo, no confucionismo, no Yin e no Yang,
nos mantras, nas pirâmides, nas auras, nas pedras e cristais maneiras de pensar e
de explicar a realidade, a Natureza, a vida e as ações humanas que não são
próprias ou específicas do Ocidente, isto é, são diferentes do padrão de
pensamento e de explicação que foram criados pelos gregos a partir do século
VII antes de Cristo, época em que nasce a Filosofia.
Convite à Filosofia
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O legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu
Por causa da colonização européia das Américas, nós também fazemos parte -
ainda que de modo inferiorizado e colonizado - do Ocidente europeu e assim
também somos herdeiros do legado que a Filosofia grega deixou para o
pensamento ocidental europeu.
Desse legado, podemos destacar como principais contribuições as seguintes:
? A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e
universais, isto é, os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por
exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês Isaac
Newton estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza.
A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro,
produz uma reação igual e contrária, que pode ser calculada usando como
elementos do cálculo a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que
a ação e a reação se deram.
Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa dela e pode
funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal , isto é, válida
para todos os corpos em todos os tempos e lugares.
Um outro exemplo: as leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme
demonstraram os filósofos gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em
Tóquio em 1993, em Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo
em 1792, em Moçambique em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do
triângulo ou do círculo são necessariamente as mesmas.
? A idéia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser
plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos
misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são
conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade,
pode alcançar.
? A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e
normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o
verdadeiro do falso. Em outras palavras, a idéia de que o nosso pensamento é
lógico ou segue leis lógicas de funcionamento.
Nosso pensamento diferencia uma afirmação de uma negação porque, na
afirmação, atribuímos alguma coisa a outra coisa (quando afirmamos que
“Sócrates é um ser humano ”, atribuímos humanidade a Sócrates) e, na negação,
retiramos alguma coisa de outra (quando dizemos “este caderno não é verde”,
estamos retirando do caderno a cor verde).
Nosso pensamento distingue quando uma afirmação é verdadeira ou falsa. Se
alguém apresentar o seguinte raciocínio: “Todos os homens são mortais. Sócrates
é homem. Logo, Sócrates é mortal ”, diremos que a afirmação “Sócrates é mortal”
Marilena Chauí
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é verdadeira, porque foi concluída de outras afirmações que já sabemos serem
verdadeiras.
? A idéia de que as práticas humanas, isto é, a aç ão moral, a política, as técnicas
e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa
escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo
certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e
não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido feitas
por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis de
serem conhecidas.
? A idéia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, porque
obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser
contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos
homens, em condições determinadas.
Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, por uma lei natural, exige que ela
caia natural e necessariamente; um ser humano anda porque as leis anatômicas e
fisiológicas que regem o seu corpo fazem com que ele tenha os meios necessários
para a locomoção.
No entanto, se uma pedra, ao cair, atingir a cabeça de um passante, esse
acontecimento é contingente ou acidental. Por quê? Porque, se o passante não
estivesse andando por ali naquela hora, a pedra não o atingiria. Assim, a queda da
pedra é necessária e o andar de um ser humano é necessário, mas que uma pedra
caia sobre minha cabeça quando ando é inteiramente contingente ou acidental.
Todavia, é muito diferente a situação das ações humanas. É verdade que é por
uma necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas é por
deliberação voluntária que ando para ir à escola em vez de andar para ir ao
cinema, por exemplo. É verdade que é por uma lei necessária da Natureza que os
corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma escolha
voluntária que fabrico uma bomba, a coloco num avião e a faço despencar sobre
Hiroshima.
Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa diferença
entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo - “tudo
é necessário, temos que nos conformar e nos resignar ” -, mas também evitar a
ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extranatural ou
sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos
conhecer e nem tudo é possível por mais que o queiramos.
? A idéia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento
verdadeiro, à felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem
agem cegamente, mas criam valores pelo quais dão sentido às suas vidas e às
suas ações.
Convite à Filosofia
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A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a
realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a
fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os
seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e
as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria
razão é capaz de conhecer-se a si mesma.
Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos
humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por
divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por
todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal
conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da
verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada
ou transmitida a todos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Revolução Francesa

Terror (Revolução Francesa)
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Artigo da sérieRevolução Francesa
Causas
Prelúdios
A Assembleia Constituinte (1789-1791)
A Assembleia Legislativa (1791-1792)
Comuna de Paris (1792)
A Convenção
O Directório
Cronologia da Revolução Francesa
O Terror foi um período da Revolução Francesa compreendido entre 31 de maio de 1793 (queda dos girondinos) e 27 de julho de 1794 (prisão de Robespierre, ex-líder dos Jacobinos).
Durante esse período as garantias civis foram suspensas e o governo revolucionário, controlado pela facção da Montanha dentro do partido jacobino, perseguiu e assassinou seus adversários (milhares de pessoas foram guilhotinadas). O Terror durou aproximadamente um ano, de meados de 1793 a meados de 1794.
O que inicialmente era uma perseguição velada aos girondinos tornou-se uma perseguição geral a todos os "inimigos" da Revolução, inclusive alguns elementos jacobinos ou que sempre haviam apoiado a mesma, como Danton. O Comitê de Salvação Pública era o órgão que conduzia a política do terror; sua figura de maior destaque foi Robespierre.
No entanto, as motivações para o Terror devem ser procuradas na tentativa de conter a contra-revolução. Após a instituição da Convenção, o governo, precisando do apoio das massas populares (os sans-cullotes) promulgou diversas leis de assistência e garantia dos direitos humanos estabelecidos pela revolução (liberdade, igualdade, fraternidade). Houve certa resistência contra essas leis, que se somava à pressão externa contra a França. O Terror foi uma resposta drástica do governo, na tentativa de controlar o país.
O Terror terminou com o golpe do 9 de Termidor (27/28 de julho de 1794), que desalojou Robespierre do cargo de presidente do Comitê de Salvação Pública e trouxe novamente a burguesia ao poder.

sábado, 24 de novembro de 2007

Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino, OP, (Roccasecca, 1225Fossanova, 7 de Março 1274) foi um frade dominicano e teólogo italiano. Foi o mais distinto expoente da Escolástica. Foi proclamado santo pela Igreja Católica e cognominado de Doctor Communis ou Doctor Angelicus
Índice[esconder]
1 Vida
2 Filosofia
3 Filosofia
4 Ética
5 Bibliografia
6 Ligações externas

Vida
Tomás de Aquino que foi chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios. Nasceu em família nobre em março de 1225 no castelo de Roca-Sica, perto da cidade de Aquino, no reino de Nápoles, na Itália. Com apenas cinco anos seu pai, conde de Landulfo d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino onde recebeu a educação, a sua família esperava que viesse a ser monge beneditino e tinha a esperança de um dia vir a ser o abade daquele mosteiro.
Aos 19 anos fugiu de casa para, contra o desejo dos pais, se juntar aos dominicanos mendicantes, entrando na Ordem fundada por São Domingos de Gusmão. Estudou filosofia em Nápoles e depois em Paris, onde se dedicou ao ensino e ao estudo de questões filosóficas e teológicas. Estudou teologia em Colônia e em Paris se tornou discípulo de Santo Alberto Magno que o "descobriu" e se impressionou com a sua inteligência. Por este tempo foi apelidado de "boi mudo". Dele disse Santo Alberto Magno: "Quando este boi mugir, o mundo inteiro ouvirá o seu mugido."
Foi mestre na Universidade de Paris no reinado de Luís IX da França e seus interesses não se restringiam a religião e filosofia, tendo também dado atenção ao estudo de alquimia, publicando uma importante obra alquímica - "Aurora Consurgens". Morreu, com 49 anos, na Abadia de Fossanova, quando se dirigia para Lião a fim de participar do Concílio de Lião, a pedido do Papa.

Filosofia
Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas "Summa", sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época : são elas a "Summa Theologiae", a "Summa Contra Gentiles".
A partir dele, a Igreja tem uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão.
Explica que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus, o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a privação ou ausência do bem.
Além da sua Teologia e da Filosofia, desenvolveu também uma Teoria do Conhecimento e uma Antropologia, deixou também escrito conselhos políticos: Do governo do Príncipe, ao rei de Chipre, que se contrapõe, do ponto de vista da ética, ao "Príncipe" de Maquiavel.

Filosofia
Com o uso da razão é possível demonstrar a existência de Deus, para isto propõe as 5 vias de demonstração:
1a. via - Primeiro Motor Imóvel
Tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido.
2a. via - Causa Primeira
Decorre da relação "causa-e-efeito" que se observa nas coisas criadas. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita.
3a. via - Ser Necessário
Existem seres que podem ser ou não ser (contingentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, logo é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser.
4a. via - Ser Perfeito
Verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, qualquer graduação pressupõe uma parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a Causa da Perfeição dos demais seres.
5a. via - Inteligência Ordenadora
Existe uma ordem no universo que é facilmente verificada, ora toda ordem é fruto de uma inteligência, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos, logo há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada.

Ética
Segundo Santo Tomás de Aquino a ética consiste num agir de acordo com a natureza racional. Todo homem é dotado de livre-arbítrio orientado pela consciência e tem uma capacidade inata de captar, intuitivamente, os ditames da ordem moral. O primeiro postulado da ordem moral é: faz o bem e evita o mal.
Há uma Lei Divina revelada por Deus aos homens e que consiste nos Dez Mandamentos.
Há uma Lei Eterna que é o plano racional de Deus que ordena todo o universo e uma Lei Natural que é conceituada como a participação da Lei Eterna na criatura racional ou seja aquilo que o homem é levado a fazer pela sua natureza racional.
A Lei Positiva é a lei feita pelo homem de modo a possibilitar uma vida em sociedade. Esta se subordina à Lei Natural, não pode contrariá-la sob pena de se tornar em lei injusta; não há a obrigação de obedecer a lei injusta - (Este é o fundamento objetivo e racional da verdadeira objeção de consciência).
A Justiça consiste na disposição constante da vontade em dar a cada um o que é seu - suum cuique tribuere - e se classifica em Comutativa, Distributiva e Legal, conforme se faça entre iguais, do soberano para os súditos e destes para com aquele, respectivamente.

domingo, 18 de novembro de 2007

Santo Agostinho

Vida
Agostinho cresceu no norte da África colonizado por Roma, educado em Cartago. Foi professor de retórica em Milão em 383. Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e se converteu ao cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Foi batizado na Páscoa de 387 e retornou ao norte da África, estabelecendo em Tagaste uma fundação monástica junto com alguns amigos. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona. Tornou-se um pregador famoso (há mais de 350 sermões dele preservados, e crê-se que são autênticos) e notado pelo seu combate à heresia do Maniqueísmo. Defendeu também o uso de força contra os Donatistas, perguntando "Por que (...) a Igreja não deveria usar de força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?" (A Correção dos Donatistas, 22-24)
Em 396 foi nomeado bispo assistente de Hipona (com o direito de sucessão em caso de morte do bispo corrente), e permaneceu como bispo de Hipona até sua morte em 430. Deixou seu mosteiro, mas manteve vida monástica em sua residência episcopal. Deixou a Regula para seu mosteiro que o levou a ser designado o "santo Patrono do Clero Regular", que é uma paróquia de clérigos que vivem sob uma regra monástica.
Agostinho morreu em 430, durante o cerco de Hipona pelos Vândalos. Diz-se que ele encorajou seus cidadãos a resistirem aos ataques, principalmente porque os Vândalos haviam aderido ao arianismo, que Agostinho considerava uma heresia.

[editar] Agostinho e os Judeus
Agostinho escreveu no Livro 18, Capítulo 46, da Cidade de Deus, "Os Judeus que O assassinaram, e não criam ele, porque coube a Ele morrer e viver novamente, foram ainda mais miseravelmente assolados pelos romanos, e completamente expulsos de seu reino, onde estrangeiros já tinham dominado sobre eles, e foram dispersos pelas terras (tanto que não há lugar onde eles não estejam), e são assim, por suas próprias Escrituras, um testemunho para nós de que não forjamos as profecias a respeito de Cristo." 1. Escreveu também uma das principais obras que apóia a crença na Trindade.
Agostinho considerou a dispersão importante porque ele acreditava que isto era um cumprimento de certas profecias, provando assim que Jesus era o Messias. Isto se deve ao fato de Agostinho crer que os judeus que foram dispersados eram inimigos da Igreja Cristã. Ele também cita parte da mesma profecia que diz "Não os mates, para que meu povo não se esqueça; espalha-os pelo teu poder". Algumas pessoas usaram as palavras de Agostinho para atacar os judeus, enquanto outros as usaram para atacar cristãos. Veja cristianismo e anti-semitismo.

[editar] Influência como teólogo e pensador

Santo Agostinho de Hipona
Na história do pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para o batismo do pensamento grego e sua entrada na tradição cristã, e posteriormente na tradição intelectual européia. Também importantes foram seus adiantados escritos influenciadores sobre a vontade humana, um tópico central na ética, e que se tornaram um foco para filósofos posteriores, como Schopenhauer e Nietzsche, mas ainda encontrando eco na obra de Camus e Hannah Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho).
É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original, e a Igreja Católica sustenta que batismo e ordenações feitos fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas igrejas protestantes, e reconhece batismos de quase todas as igrejas cristãs). Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado.
O pensamento de Agostinho foi também basilar em orientar a visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha a restaurar a condição decaída da razão humana, sendo portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do gênesis como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico", vão influenciar fortemente a Igreja medieval, que terá uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.
Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do pensamento grego e cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho foram João Calvino e Cornelius Jansen. O Calvinismo se desenvolveu como parte da teologia da Reforma, enquanto que o Jansenismo foi um movimento dentro da Igreja Católica; alguns jansenistas entraram em divisão e formaram sua própria igreja.
Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um doutor da Igreja. Seu dia é 28 de agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos, e de um grande número de cidades e dioceses.

[editar] Escritos
Da Doutrina Cristã, 397-426
Confissões, 397-398
A Cidade de Deus, iniciado c. de 413, terminado 426.
Da Trindade, 400-416
Enquirídio
Retratações
De Magistro
Conhecendo a si mesmo

[editar] Cartas
Da Catequese dos não instruídos
Da Fé e do Credo
Fé concernente às coisas que não se vêem
Do benefício da crença
Do Credo: Um sermão para catecúmenos
Da continência
Da bondade do casamento
Da Santa Virgindade
Da bondade da viuvez
Da mentira
Para Consêncio: Contra a mentira
Do trabalho dos monges
Da paciência
Do cuidado de ser tido pelos mortos
Da Moral da Igreja Católica
Da Moral dos Maniqueístas
Das duas almas, contra os Maniqueístas
Atos ou disputa contra Fortunato, o Maniqueísta
Contra a Epístola de Maniqueu chamada Fundamental
Resposta a Fausto o Maniqueísta
Concernente à Natureza de Deus, contra os Maniqueístas
Do Batismo, contra os Donatistas
Resposta às cartas de Petiliano, bispo de Cirta
A correção dos Donatistas
Méritos e remissão do pecado e batismo de crianças
Do Espírito e da carta
Da Natureza e Graça
Da perfeição e retidão do homem
Dos procedimentos de Pelágio
Da graça de Cristo, e do pecado original
Do casamento e concupiscência
Da alma e sua origem
Contra duas cartas dos Pelagianos
Da graça e livre arbítrio
Da repreensão e graça
A predestinação dos santos/Dom de perseverança
O Sermão do Monte de Nosso Senhor
A harmonia dos Evangelhos
Sermões sobre lições selecionadas do Novo Testamento
Tratados sobre o Evangelho de João
Sermões sobre a Primeira Epístola de João
Solilóquios
As enarrações, ou exposições, dos Salmos
Agostinho foi um autor prolífico em muitos gêneros -- tratados teológicos, sermões, comentários da escritura, e autobiografia. Suas Confissões são geralmente consideradas como a primeira autobiografia; Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até sua então (com cerca de cinqüenta anos) relação com Deus, e termina com um longo excurso sobre o livro de Gênesis, no qual ele demonstra como interpretar a escritura. A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores.
No fim de sua vida (426-428?) Agostinho revisitou seus trabalhos anteriores em ordem cronológica e sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retrações, que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e seus pensamentos finais, além de se arrepender de ter utilizado demais de filósofos pagãos. assim disse o louco izair

[editar] Ver também

O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Agostinho de Hipona.
Lista de todos os santos
Predestinação
Livre arbítrio
Augustinologia

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Aristóteles: vida e obra

Aristóteles (384322 a.C.) foi um filósofo grego nascido em Estagira, um dos maiores pensadores de todos os tempos e considerado o criador do pensamento lógico.

Índice
1 Apreciação geral
2 Vida
3 O pensamento aristotélico
3.1 Lógica
3.2 Física
3.3 Psicologia
3.4 Biologia
3.5 Metafísica
3.5.1 As quatro causas
3.5.2 Essência e acidente
3.5.3 Potência, ato e movimento
3.6 Ética
3.6.1 Política
3.6.2 Direito
3.7 Retórica
3.8 Poética
4 Obra
4.1 Obras online
5 Linha do tempo
6 Ver também

Apreciação geral
Suas reflexões filosóficas — por um lado originais e por outro reformuladoras da tradição grega — acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos.
Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural e outras áreas de conhecimento humano. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental.
Por ter estudado uma variada gama de assuntos, e por ter sido também um discípulo que em muito sentidos ultrapassou seu mestre, Platão, é conhecido também como o Filósofo.

Vida
Aristóteles (em grego, Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica. Apesar de ser da Macedônia, o grego era o idioma falado. Era filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II, pai de Filipe II da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande. É provável que o interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica exercida pelo pai.
Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Como muitos outros jovens de seu tempo, foi para lá prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela Academia platônica e nela permaneceu 20 anos, até 347 a.C., ano que morreu Platão.
Com a morte de grande mestre e com a escolha do sobrinho de Platão, Espeusipo, para a chefia da Academia, Aristóteles partiu para Assos com alguns ex-alunos. Dois fatos parecem se relacionar com esse episódio: Espeusipo representava uma tendência que desagradava imensamente Aristóteles, isto é, a matematização da filosofia; e Aristóteles ter-se sentido preterido (ou rejeitado), já que se julgava o mais apto para assumir a direção da Academia.
Em Assos, Aristóteles fundou um pequeno círculo filosófico com a ajuda de Hérmias, tirano local e eventual ouvinte de Platão. Lá ficou por três anos e casou-se com Pítias, sobrinha de Hérmias. Assassinado Hérmias, Aristóteles partiu para Mitilene, na ilha de Lesbos, onde realizou a maior parte de suas famosas investigações biológicas. No ano de 343 a.C. chamado por Filipe II, tornou-se preceptor de Alexandre, função que exerceu até 336 a.C., quando Alexandre subiu ao trono.
Neste mesmo ano, de volta a Atenas, fundou o «Lykeion», origem da palavra Liceu cujos alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam), nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as ciências naturais. Alexandre mesmo enviava ao mestre exemplares da fauna e flora das regiões conquistadas. Seu trabalho cobria os campos do conhecimento clássico de então: filosofia, metafísica, lógica, ética, política, retórica, poesia, biologia, zoologia, medicina e não só estabeleceu as bases de tais disciplinas quanto sua metodologia científica.
Aristóteles dirigiu a escola até 323 a.C., pouco depois da morte de Alexandre. Os sentimentos antimacedônios dos atenienses voltaram-se contra ele que, sentindo-se ameaçado, deixou Atenas afirmando não permitir que a cidade cometesse um segundo crime contra a filosofia (alusão ao julgamento de Sócrates). Deixou a escola aos cuidados de seu principal discípulo, Teofrasto (371 a.C. - 287 a.C.) e retirou-se para Cálcis, na Eubéia, onde morreu a 322 a.C..

O pensamento aristotélico
A tradição representa um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo sentido, Aristóteles via seu próprio pensamento como o ponto culminante do processo desencadeado por Tales de Mileto. Sua filosofia pretendia não apenas rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar suas críticas, revisões e novas proposições.

Lógica
Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma propedêutica para as ciências e para o conhecimento e baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também o será.

Física
A concepção aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas análises dos conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e potência, com implicações metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e potência relacionam-se com o movimento enquanto que a matéria e forma com a ausência de movimento.
Para Aristóteles, os objetos caíam para se localizarem corretamente de acordo com sua natureza: o éter, acima de tudo; logo abaixo, o fogo; depois a água e, por último, a terra.

Psicologia
A Psicologia é a teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma (psykhé) e intelecto (noûs). A alma é a forma primordial de um corpo que possui vida em potência, sendo a essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação específica com o corpo; sua atividade vai além dele.
O organismo, uma vez desenvolvido, recebe a forma que lhe possibilitará perfeição maior, fazendo passar suas potências a ato. Essa forma é alma. Ela faz com que vegetem, cresçam e se reproduzam os animais e plantas e também faz com que os animais sintam.
No homem, a alma, além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a característica da inteligência, que é capaz de apreender as essências de modo independente da condição orgânica.
Ele acreditava que a mulher era um ser incompleto, um meio homem. Seria passiva, ao passo que o homem seria ativo.

Biologia
É a ciência da vida e situa-se no âmbito da física (como a própria psicologia), pois está centrada na relação entre ato e potência. Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia - levando-se em conta o sentido etimológico da palavra. A ele se deve a primeira divisão do reino animal.
Aristóteles é o pai da teoria da abiogênese, que durou até séculos mais recentes, segundo a qual um ser nascia de um germe da vida, sem que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto os humanos): um exemplo é o das aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe da vida estaria nas plantas próximas.

Metafísica
O termo metafísica não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.
O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para metafísica: 1) a ciência que indaga causas e princípios; 2) a ciência que indaga o ser enquanto ser; 3) a ciência que investiga a substância e 4) a ciência que investiga a substância supra-sensível.
Os conceitos de ato e potência, matéria e forma, substância e acidente possuem especial importância na metafísica aristotélica.

As quatro causas
Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:
A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);
A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);
A causa motora (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);
A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
A teoria aristotélica sobre as causas estende-se sobre toda a Natureza, que é como um artista que age no interior das coisas.

Essência e acidente
Aristóteles distingue, também, a essência e os acidentes em alguma coisa.
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo (por exemplo: um livro sem nenhum tipo de letras não pode ser considerado um livro, pois o fato de ter letras é o que permite-o ser identificado como "livro" e não como "caderno" ou meramente "papel em branco").
O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta (o tamanho de uma flor, por exemplo, é um acidente, pois uma flor grande não deixará de ser flor por ser grande; a sua cor, também, pois, por mais que uma flor tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim tal característica não faz de uma flor o que ela é).

Potência, ato e movimento
Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "ato puro".
Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.

Ética
No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade.
Partindo das disposições naturais do homem (disposições particulares a cada um e que constituem o caráter), a moral mostra como essas disposições devem ser modificadas para que se ajustem à razão. Estas disposições costumam estar afastadas do meio-termo, estado que Aristóteles considera o ideal. Assim, algumas pessoas são muito tímidas, outras muito audaciosas. A virtude é o meio-termo e o vício se dá ou na falta ou no excesso. Por exemplo: coragem é uma virtude e seus contrários são a temeridade (excesso de coragem) e a covardia (ausência de coragem).
As virtudes se realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as relações humanas desaparecem, como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é a virtude especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os filósofos) que, fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É assim que a contemplação aproxima o homem de Deus.

Política

Alexandre e Aristóteles
Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do estado.
Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre.

Direito
Para Aristóteles, assim como a política, o direito também é um desdobramento da ética. O direito para Aristóteles, por ser fruto de teses, hipóteses, não nescessáriamente verdadeiros, validados principalmente pela aprovação da maioria, é uma ciência dialética.

Retórica
Aristóteles considerava importante o conhecimento da retórica, já que ela se constituiu em uma técnica (por habilitar a estruturação e exposição de argumentos) e por relacionar-se com a vida pública. O fundamento da retórica é o entimema (silogismo truncado, incompleto), um silogismo no qual se subentende uma premissa ou uma conclusão. O discurso retórico opera em três campos ou gêneros: gênero deliberativo, gênero judicial e gênero epidítico (ostentoso, demonstrativo).

Poética
A poética é imitação (mimesis) e abrange a poesia épica,a tragédia e a comédia. A imitação visa a recriação e a recriação visa aquilo que pode ser. Desse modo, a poética tem por fim o possível. O homem apresenta-se de diferentes modos em cada gênero poético: a poesia épica apresenta o homem como maior do que realmente é, idealizando-o; a tragédia apresenta o homem exaltando suas virtudes e a comédia apresenta o homem ressaltando seus vícios ou defeito.

Obra
A filosofia aristotélica é um sistema, ou seja, há relação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo filósofo. Seus escritos versam sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua época (menos as matemáticas).
Embora sua produção tenha sido excepcional, apenas uma parcela foi conservada. Seus escritos dividiam-se em duas espécies: as 'exotéricas' e as 'acroamáticas'. As exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas. Da exotéricas, restaram apenas fragmentos.
O conjunto das obras de Aristóteles é conhecido entre os especialistas como corpus aristotelicum.
O Organon, que é a reunião dos escritos lógicos, abre o corpus e é assim composto:
Categorias: análise dos elementos do discurso;
Sobre a interpretação: análise do juízo e das proposições;
Analíticos (Primeiros e Segundos): análise do raciocínio formal através do silogismo e da demonstração científica;
Tópicos: análise da argumentação em geral;
Elencos sofísticos: tido como apêndice dos Tópicos, analisa os argumentos capciosos.
Em seguida, aparecem os estudos sobre a Natureza e o mundo físico. Temos:
Física;
Sobre o céu;
Sobre a geração e a corrupção;
Meteorológicos.
Segue-se a Parva naturalia, conjunto de investigações sobre temas relacionados.

Da alma;
Da sensação e o sensível;
Da memória e reminiscência;
Do sono e a vigília;
Dos sonhos;
Da adivinhação pelo sonho;
Da longevidade e brevidade da vida;
Da Juventude e Senilidade;
Da Respiração;
História dos Animais;
Das Partes dos Animais;
Do Movimento dos Animais;
Da Geração dos Animais;
Da Origem dos Animais.
Após os tratados que versam sobre o mundo físico, temos a obra dedicada à filosofia primeira, isto é, a Metafísica. Não se deve necessariamente entender que 'metafísica' signifique uma investigação sobre um plano de realidade fora do mundo físico. Esta é uma interpretação neoplatônica.
À filosofia primeira, seguem-se as obras de filosofia prática, que versam sobre Ética e Política. Estas reflexões têm lugar em quatro textos:
Ética a Nicômaco;
Ética a Eudemo (atualmente considerada como uma primeira versão da Ética a Nicômaco);
Grande Moral ou Magna Moralia (resumo das concepções éticas de Aristóteles);
Política (a política, para Aristóteles, é o desdobramento natural da ética)
Existem, finalmente, mais duas obras:
Retórica;
Poética (desta obra conservam-se apenas os tratados sobre a tragédia e a poesia épica).
O corpus aristotelicum ainda inclui outros escritos sobre temas semelhantes, mas hoje sabe-se que são textos apócrifos. Aristóteles havia registrado as constituições de todas as cidades gregas, mas julgava-se que esses escritos haviam se perdido. No século XIX, contudo, foi descoberta a Constituição de Atenas, única remanescente.

Obras online
Ousia - Estudos em Aristóteles (em português)
Constituição de Atenas - (em português)
Coletânea de textos (em inglês)
The Aristotelian Society (em inglês)
Aristóteles (em Inglês)

Linha do tempo
387 a.C. - Platão funda a Academia.
384 a.C. - Nascimento de Aristóteles.
367/66 a.C. - Aristóteles chega a Atenas e ingressa na Academia.
356 a.C. - Nascimento de Alexandre, o Grande.
347 a.C. - Morte de Platão. Aristóteles deixa a Academia e Atenas.
343 a.C. - Aristóteles preceptor de Alexandre.
338 a.C. - Os macedônios derrotam os gregos na batalha de Queronéia.
335 a.C. - Retorno de Aristóteles a Atenas e fundação do Liceu.
323 a.C. - Morte de Alexandre na Babilônia.
322 a.C. - Morte de Aristóteles em Cálcis, Eubéia.

Ver também

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Filosofia
Platão
Academia de Platão
Escolástica

Platão: vida e obra

Platão
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Herma de Platão, Museus Capitolinos
Platão de Atenas (428/27 a.C. — 347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Aristócles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua caracteristica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos), em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.
Índice[esconder]
1 Vida
2 Pensamento platônico
2.1 A reminiscência
2.2 Conhecimento
2.3 Política
2.4 O Homem
3 Obra
3.1 Tetralogias
4 Linha do tempo
5 Obras completas de Platão
6 Obras de Platão em Português
7 Ver também
8 Ligações externas

Vida
Platão (em grego Πλάτων) nasceu um ano após a morte do estadista ateniense Péricles. Seu pai, Aristão , tinha como ancestral o rei Codros e sua mãe, Perictione, tinha Sólon entre seus antepassados. Inicialmente, Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo, um seguidor de Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Pouco depois de 399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates, hospedando-se na casa de Euclides. Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto comunidades pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir a Siracusa, na Sicília. Platão parte para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. No entanto, acabou por se desentender com o tirano local e retorna para Atenas.
Em seu retorno, funda a Academia. A instituição logo adquire prestígio e a ela acorriam inúmeros jovens em busca de instrução e até mesmo homens ilustres a fim de debater idéias. Em 367 a.C., Dionísio I morre, e Platão retorna a Siracusa a fim de mais uma vez tentar implementar suas ideias políticas na corte de Dionísio II. No entanto, o desejo do filósofo foi novamente frustrado. Em 361 a.C. volta pela última vez a Siracusa com o mesmo objetivo e pela terceira vez fracassa. De volta a Atenas em 360 a.C., Platão permaneceu na direcção da Academia até sua morte, em 347 a.C.

Pensamento platônico

Detalhe de Platão, n'A Escola de Atenas, obra do renascentista Rafael.
Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira, é a realidade, mais concreta, permanente, imutável, igual a si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades dependentes, mutáveis e são imagens das realidades inteligíveis.
Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Idéias ou Teoria das Formas. Foi desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir a possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos.
Para Platão, o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das Idéias. Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de sua categoria, de uma Idéia perfeita. Uma determinada caneta, por exemplo, terá determinados atributos (cor, formato, tamanho, etc). Outra caneta terá outros atributos, sendo ela também uma caneta, tanto quanto a outra. Aquilo que faz com que as duas sejam canetas é, para Platão, a Idéia de Caneta, perfeita, que esgota todas as possibilidades de ser caneta.
A ontologia de Platão diz, então, que algo é na medida em que participa da Idéia desse objeto. No caso da caneta é irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou a justiça, por exemplo.
O problema que Platão propõe-se a resolver é a tensão entre Heráclito e Parmênides: para o primeiro, o ser é a mudança, tudo está em constante movimento e é uma ilusão a estaticidade, ou a permanência de qualquer coisa; para o segundo, o movimento é que é uma ilusão, pois algo que é não pode deixar de ser e algo que não é não pode ser, assim, não há mudança.
Ou seja (por exemplo), o que faz com que determinada árvore seja ela mesma desde o estágio de semente até morrer, e o que faz com que ela seja tão árvore quanto outra de outra espécie, com características tão diferentes? Há aqui uma mudança, tanto da árvore em relação a si mesma (com o passar do tempo ela cresce) quanto da árvore em relação a outra. Para Heráclito, a árvore está sempre mudando e nunca é a mesma, e para Parmênides, ela nunca muda, é sempre a mesma e é uma ilusão sua mudança.
Platão resolve esse problema com sua Teoria das Idéias. O que há de permanente em um objeto é a Idéia, mais precisamente, a participação desse objeto na sua Idéia correspondente. E a mudança ocorre porque esse objeto não é uma Idéia, mas uma incompleta representação da Idéia desse objeto. No exemplo da árvore, o que faz com que ela seja ela mesma e seja uma árvore (e não outra coisa), a despeito de sua diferença daquilo que era quando mais jovem e de outras árvores de outras espécies (e mesmo das árvores da mesma espécie) é sua participação na Idéia de Árvore; e sua mudança deve-se ao fato de ser uma pálida representação da Idéia de Árvore.
Platão também elaborou uma teoria gnosiológica, ou seja, uma teoria que explica como se pode conhecer as coisas, ou ainda, uma teoria do conhecimento. Segundo ele, ao vermos um objeto repetidas vezes, uma pessoa lembra-se, aos poucos, da Idéia daquele objeto, que viu no mundo das Idéias. Para explicar como se dá isso, Platão recorre a um mito (ou uma metáfora) que diz que, antes de nascer, a alma de cada pessoa vivia em uma Estrela, onde localizam-se as Idéias. Quando uma pessoa nasce, sua alma é "jogada" para a Terra, e o impacto que ocorre faz com que esqueça o que viu na Estrela. Mas ao ver um objeto aparecer de diferentes formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma recorda-se da Idéia daquele objeto que foi vista na Estrela. Tal recordação, em Platão, chama-se anamnesis.

A reminiscência
Uma das condições para a indagação ou investigação acerca das Idéias é que não estamos em estado de completa ignorância sobre elas. Do contrário, não teríamos nem desejo nem poder de procurá-las. Em vista disso, é uma condição necessária (para tal investigação) que tenhamos em nossa alma alguma espécie de conhecimento ou lembrança de nosso contato com as Idéias (contato esse ocorrido antes do nosso próprio nascimento) e nos recordamos das Idéias por vê-las reproduzidas palidamente nas coisas. Deste modo, toda a ciência platônica é uma reminiscência. A investigação das Idéias supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde contemplavam as Idéias. Podemos tomar como exemplo o Mito da Parelha Alada, localizado no diálogo Fedro, de Platão. Neste diálogo, Platão compara a raça humana a carros alados. Tudo o que fazemos de bom, dá forças às nossas asas. Tudo o que fazemos de errado, tira força das nossas asas. Ao longo do tempo fizemos tantas coisas erradas que nossas asas perderam as forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no Mundo Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento, fomos condenados a vermos apenas as sombras do Mundo das Idéias.

Conhecimento

Platão ensina filosofia. Mosaico romano de Pompéia
Platão não buscava as verdadeiras essências da forma física como buscavam Demócrito e seus seguidores, sob influência de Sócrates buscava a verdade essencial das coisas. Platão não poderia buscar a essência do conhecimento nas coisas, pois estas são corruptíveis, ou seja, variam, mudam, surgem e se vão. Como o filósofo deveria buscar a verdade plena, deveria buscá-la em algo estável, as verdadeiras causas, pois logicamente a verdade não pode variar, se há uma verdade essencial para os homens esta verdade deve valer para todas as pessoas. Logo, a verdade deve ser buscada em algo superior. Nas coisas devem ter um outro fundamento, que seja além do físico, a forma de buscar estas realidades vem do conhecimento, não das coisas, mas do além das coisas. Esta busca racional é contemplativa, isto significa buscar a verdade no interior do próprio homem. Porém o próprio homem não é meramente sujeito particular, mas como um participante das verdades essenciais do ser.
Platão assim como seu mestre Sócrates busca descobrir as verdades essenciais das coisas. O conhecimento era assim o conhecimento do próprio homem, mas sempre ressaltando o homem não enquanto corpo, mas enquanto alma. O conhecimento que continha na alma era a essência daquilo que existia no mundo sensível, assim em Platão também a técnica e o mundo sensível eram secundários. A alma humana enquanto perfeita participa do mundo perfeito das idéias, porém este formalismo só é reconhecível na experiência sensível.
Também o conhecimento tinha fins morais, isto é, levar o homem à bondade e à felicidade. Assim a forma de conhecimento era um reconhecimento, que faria o homem dar-se conta das verdades que sempre já possuía e que o levavam a discernir melhor dentre as aparências de verdades e as verdades. A obtenção do autoconhecimento era um caminho árduo e metódico.
Referente ao mundo material o homem pode ter somente a doxa (opinião) e téchne (técnica), que permitia a sobrevivência do homem, ao passo que referente ao mundo das idéias, ou verdadeiro conhecimento filosófico, o homem pode ter a épisthéme (verdadeiro conhecimento).
Platão não defendia que todas as pessoas tivessem iguais acessos à razão. Apesar de todos terem a alma perfeita, nem todos chegavam à contemplação absoluta do mundo das idéias.

Política
"... os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente". (Platão).
Esta afirmação de Platão deve ser compreendida baseado na teoria do conhecimento, e lembrando que o conhecimento para Platão tem fins morais. Mas cumpre ressaltar outro aspecto: Platão acreditava que existiam três espécies de virtudes baseadas na alma.
A primeira virtude era a da sabedoria, deveria ser a cabeça do Estado, ou seja, a governante, pois possui caráter de ouro e utiliza a razão.
A segunda espécie de virtude é a coragem, deveria ser o peito do estado, isto é, os soldados, pois sua alma de prata é imbuída de vontade.
E, por fim, a virtude da temperança, que deveria ser o baixo-ventre do estado, ou os trabalhadores, pois sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.

O Homem
O homem para Platão era dividido em corpo e alma. O corpo era a matéria e a alma era o imaterial e o divino que o homem possuía. Ao passo que o corpo sempre está em constante mudança de aparência, forma... A alma não muda nunca, a partir do momento em que nascemos temos a alma perfeita, porém não sabemos. As verdades essenciais estão escritas na alma eternamente, porém ao nascermos esquecemos, pois a alma é aprisionada no corpo.
A alma é divida em 3 partes:
1=> raciona: região da cabeça; esta tem que controlar as outras duas partes.
2=> torax: irascível; parte dos sentimentos.
3=> abdômen: concupiscível; desejo, mesmo carnal (sexual), ligado ao libido.
Platão acreditava que a alma depois da morte reencarnava em outro corpo, mas a alma que se ocupava com a filosofia e com o Bem, esta era privilegiada com a morte do corpo. A ela era concedida o privilégio de passar o resto de seus tempos em companhia dos deuses.
O conhecimento da alma é que dá sentido à vida. Tudo foi criado pelo Demiurgo (seu criador), um divino artesão que criou o mundo real e sua aparência.
A ação do homem se restringe ao mundo material; no mundo das idéias o homem não pode transformar nada. Porque se é perfeito não pode ser mais perfeito.

Obra

Papiro Oxyrhynchus, com trecho da República, de Platão
Platão escreveu, principalmente, na forma de diálogos. A coleção desses escritos, considerados autênticos, e numa ordem provavelmente cronológica, são:
Hípias (menor): trata do agir humano;
Alcibíades (Primeiro): trata da doutrina socrática do auto-conhecimento;
Alcibíades (Segundo): trata do conhecimento;
Apologia de Sócrates: relata o discurso de defesa de Sócrates no tribunal de Atenas;
Eutífron: trata dos conceitos de piedade e impiedade;
Críton: trata da justiça;
Hípias (maior): discussão estética;
Laques: trata da coragem;
Lísis: trata da amizade/amor;
Cármides: diálogo ético;
Protágoras: trata do conceito e natureza da virtude;
Górgias: trata do verdadeiro filósofo em oposição aos sofistas;
Mênon: trata do ensino da virtude;
Fédon: relata o julgamento e morte de Sócrates e trata da imortalidade da alma;
Banquete: trata da origem, as diferentes manifestações e o significado do amor sensual;
Fedro: trata da retórica e do amor sensual;
Íon: trata de poesia;
Menêxeno: elogio da morte no campo de batalha;
Eutidemo: crítica aos sofistas;
Crátilo: trata da natureza dos nomes;
A República: aborda vários temas, mas todos subordinados à questão central da justiça;
Parmênides: trata da ontologia. É neste diálogo que o jovem Sócrates, a personagem, defende a teoria das formas que é duramente criticada por Parmênides;
Teeteto: trata exclusivamente da Teoria do Conhecimento;
Sofista: diálogo de caráter ontológico, discute o problema da imagem, do falso e do não-ser;
Político: trata do perfil do homem político;
Filebo: versa sobre o bom e o belo e como o homem pode viver melhor;
Timeu: trata da origem do universo.
Crítias: Platão narra aqui mito de Atlântida através de Crítias (seu avô). É um diálogo inacabado;
Leis: aborda vários temas da esfera política e jurídica. É o último (inacabado), mais longo e complexo diálogo de Platão;
Epidômite
Cartas (dentre as quais, somente a de número 7 é considerada realmente autêntica)

Tetralogias
Há, na Antigüidade, duas classificações das obras de Platão: a trilógica, de Aristófanes de Bizâncio, e a tetralógica, de Trasilo. Segundo Diógenes Laércio, as 9 tetralogias são:
I. Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon
II. Crátilo, Teeteto, Sofista, Político
III. Parmênides, Filebo, Banquete, Fedro
IV. Primeiro Alcibíades (1), Segundo Alcibíades (2), Hiparco (2), Os amantes (2)
V. Theages (2), Carmides, Laques, Lísis
VI. Eutidemo, Protágoras, Górgias, Mênon
VII. Hipias (maior) (1), Hípias (menor), Íon, Menéxenes
VIII. Clitófon (1), A República, Timeu, Crítias
IX. Minos (2), Leis, Epínomis (2), Sétima carta (1).
Muitos diálogos não inclusos nas tetralogias de Trasilo circularam com o nome de Platão, ainda que fossem considerados espúrios (notheuomenoi) até mesmo na Antigüidade.
Axíocho (2), Definições (2), Demódoco (2), Epigramas, Eríxia (2), Halcyon (2), Da Justiça (2), Da Virtude (2), Sísifo (2).
Os diálogos que estão marcados com (1) nem sempre são atribuídos a Platão, e os marcado com (2) são considerados apócrifos. Os que não estão marcados são de autoria certa. O critério para a atribuição é variado, mas geralmente são consideradas obras de Platão as que são citadas por Cícero ou Aristóteles, ou referidas pelo próprio autor em outros textos.

Linha do tempo
432 a.C. - Início da guerra do Peloponeso.
428/427 a.C. - Nascimento de Platão.
399 a.C. - Condenação de Sócrates à morte pela Assembléia popular de Atenas.
387 a.C. - Platão funda, em Atenas, a Academia.
348/347 a.C. - Morte de Platão, em Atenas.
338 a.C. - Felipe da Macedônia vence a batalha de Queronéia e conquista a Grécia.

Obras completas de Platão
Plato in Twelve Volumes. vols. 5 & 6. Translated by Paul Shorey. Cambridge: Harvard University Press; London: William Heinemann Ltd, 1969.
Obras Completas 2a ed. Traducción, preámbulos y notas Maria Araujo, Franciso Garcia Yagüe et alli. Madrid: Aguilar, 1979. 1717 p.
Oeuvres Complètes. Traduit par Auguste Diès, Alfred Croiset et alli. Paris: Les Belles Lettres, 1921. 26 v.
Plato Complete Works. Edited by John M. Cooper. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 1997. 1808 p.

Obras de Platão em Português
A República. 8a ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. 513 p.
A República. 3a ed. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2000. 470 p.
A República. Trad. de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997. 352 p. (Os Pensadores)
Edipro, 1999. 543 p.
Cartas. 3a ed. Trad. de Conceição Gomes da Silva e Maria Adozinda Melo. Lisboa: Editora Estampa, 1989. 122 p.
Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon. São Paulo : Nova Cultural, 1996. 191 p. (Os Pensadores)
Fédon. Trad. de Maria Teresa Schiappa de Azevedo. Brasília: UnB, 2000. 148 p.
Fedro. Trad. de Alex Martins. São Paulo : Martin Claret, 2002. 127 p.
Hípias Menor. Trad. de Maria Teresa Schiappa de Azevedo. Lisboa: Edições 70, 1999. 117 p.
Mênon. Trad. de Maura Iglésias. São Paulo/Rio de Janeiro : Loyola/Puc-Rio, 2001. 117 p.
O Banquete. 9a ed. Trad. de J. Calvalcanti de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 201 p.
O Banquete, Apologia de Sócrates. 2a ed. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2001. 147 p.
O Banquete, Fédon, Sofista, Político. Trad. de José Cavalcanti de Souza et alli. São Paulo: Abril Cultural, 1972. 269 p. (Os Pensadores)
Parmênides. Trad. de Maria José Figueiredo. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. 120 p.
Protágoras, Górgias, Fedão. 2a ed. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2002. 339 p.
Teeteto, Crátilo. 3a ed. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2001. 226 p.
Timeu, Crítias, O segundo Alcibíades, Hípias Menor. 3a ed. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2001. 221 p.

Ver também
Academia de Platão e Academia de Letras
Amor platônico
Atlântida
Neoplatonismo
Alegoria da caverna
Mito de Er

Ligações externas

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