sábado, 29 de setembro de 2007

O conflito Israelense-palestino

O conflito israelense-palestino
O Oriente Médio parece afundar num atoleiro sem saída: de um lado, o governo israelense, conduzido pelo primeiro-ministro direitista (do partido Likud) Ariel Sharon, se opõe a qualquer concessão política e trata a questão palestina como assunto militar; de outro, os militantes dos grupos radicais palestinos prosseguem a escalada de atentados suicidas contra alvos civis israelenses.
A crise hojeOs raros meses de tranqüilidade e esperança que se seguiram ao acordo de Oslo de 1993, com a devolução de cidades palestinas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, assemelham-se a uma distante miragem frente a um cotidiano em que os atentados sangrentos praticados pelos grupos radicais islâmicos são respondidos com ferocidade sem precedentes pelo Estado judaico. À política de "trocar terras pela paz", promovida pelos governantes israelenses de então, os trabalhistas Yitzhak Rabin e Shimon Peres, seguiu-se o "olho por olho" de Ariel Sharon.
A partir de março e avançando pelo mês de abril, o exército israelense promoveu uma operação militar de grande envergadura (denominada "Muro de Defesa"), ocupando e bombardeando várias cidades e povoados, pondo abaixo bairros inteiros, praticamente destruindo toda a infra-estrutura das áreas controladas pela Autoridade Nacional Palestina e matando centenas de civis.
Concessões: a única forma de atingir a pazAmparado pela política do presidente norte-americano George Bush, que reduz os complexos problemas do mundo à simplista luta do "bem" contra o "mal", Sharon impôs ao chefe da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat (confinandoo num pequeno espaço do complexo político-administrativo militar de Ramallah, a capital da Autoridade nacional Palestina). E mais: tem procurado desqualificá-lo como interlocutor, responsabilizando-o pelos atentados e desconsiderando suas propostas de paz.
Porém, o confinamento de Arafat fortalece sua imagem junto à população palestina e aos líderes europeus, enquanto Sharon escandaliza o mundo com a devastação provocada por sua operação "Muro de Defesa". Sob a tutela do truculento primeiro ministro, Israel vive hoje uma séria recessão econômica, agravada pela drástica redução do turismo por causa dos atentados, e depende cada vez mais do socorro financeiro norte-americano.
A eleição de Sharon foi o voto de confiança de parte da população israelense num governo de linha-dura como forma de conter a escalada de violência. As últimas pesquisas de opinião pública mostram que o primeiro ministro conta confortáveis 75% de aprovação. Mas a aposta em que ele traria segurança vem sendo perdida a cada dia. A violência praticada contra o povo palestino tem a força de um bumerangue, que acaba se voltando contra a própria população israelense. O recente manifesto de oficiais da reserva a favor da paz, assinado inclusive pelo ex-primeiro ministro Ehud Barak, é um sinal de que uma parte importante da sociedade israelense está cansada dessa política insana e busca uma saída construtiva para a crise.
A pauta de reivindicações palestinas inclui itens considerados inaceitáveis pelos segmentos mais intransigentes de Israel: o controle sobre Jerusalém Oriental, onde os palestinos esperam instalar a capital de seu futuro Estado nacional; a volta ao lar de 3,5 milhões de refugiados; e a desativação das colônias judaicas implantadas nos territórios ocupados após a Guerra dos Seis Dias (220 mil colonos judeus vivem hoje na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e, segundo o movimento pacifista israelense Paz Agora, 34 novos assentamentos foram construídos durante o governo de Sharon). Mas a própria trajetória política da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que evoluiu das ameaças retóricas de "lançar os judeus ao mar" à aceitação do Estado de Israel, mostra que o caminho das concessões é a única forma de estancar uma espiral de ódio e ressentimento, que envenena israelenses e palestinos e se propaga de geração a geração.
Cronologia do Conflito
70 d.C.
Revolta judaica contra o domínio romano; Tito, futuro imperador de Roma, destrói o Templo de Jerusalém.
133 d.C.
Novo levante contra Roma; os romanos arrasam Jerusalém e expulsam a população judaica.
638 d.C.
Conquista da Palestina pelos árabes; na área onde se erguia o Templo, os muçulmanos edificam o Domo do Rochedo; a região permanece sob domínio islâmico até o século 20, exceto de 1099 a 1187, quando Jerusalém foi governada pelos Cruzados.
1897
Inspirado pelas idéias do jornalista austríaco Theodor Herzl, realiza-se na Suíça o Primeiro Congresso Sionista, que propõe o retorno do povo judeu à Palestina; fugindo do anti-semitismo europeu, dezenas de milhares de judeus emigram para a região, então uma província do Império Otomano (turco).
1914-1918
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra apoia a revolta árabe contra o domínio turco e promete independência às antigas províncias otomanas. Ao mesmo tempo, faz um acordo secreto com a França para a partilha daqueles territórios e envia uma declaração ao magnata judeu Rothschild, comprometendo-se com o estabelecimento de uma pátria judaica na Palestina.
1918-1939
Com a derrota otomana, a Inglaterra assume o controle da Palestina; centenas de milhares de judeus emigram para a região, provocando intensa revolta entre a população árabe. Para acelerar a criação de um Estado judeu, a organização sionista radical Irgun realiza atos terroristas contra alvos britânicos e árabes.
1939-1945
Segunda Guerra Mundial: fugindo da perseguição nazista na Europa, novas levas de judeus chegam à Palestina.
1947
A ONU propõe a divisão do território em dois países - 56,47% para os judeus, 43,53% para os árabes -, ficando Jerusalém sob controle internacional; os representantes judeus aceitam, os palestinos rejeitam.
1948
O Irgun pratica atos terroristas, provocando o êxodo de centenas de milhares de palestinos. Enquanto as tropas britânicas se retiram da região, é proclamada, em 14 de maio, a criação do Estado de Israel. No dia seguinte, exércitos da Jordânia, Egito, Líbano, Síria e Iraque invadem o país, mas são rechaçados pelos israelenses. O cessar-fogo amplia o território de Israel em 75%. O Egito fica com a Faixa de Gaza; à Jordânia coube a Cisjordânia e a parte oriental de Jerusalém.
1964
Criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
1967
Guerra dos Seis Dias, na qual Israel bate os exércitos árabes e ocupa a Faixa de Gaza, a Península do Sinai (Egito), as Colinas de Golã (Síria), a Cisjordânia e Jerusalém oriental, duplicando seu território. Em conseqüência dessas conquistas; mais de 500 mil palestinos são deslocados de suas terras, tendo que se refugiar no Líbano, Jordânia, Síria e Egito.
1969
Yasser Arafat, líder da organização guerrilheira Fatah, assume o comando da OLP.
1973
Guerra do Yom Kippur, na qual, após três semanas de combates, Israel rechaça o ataque conjunto do Egito e da Síria. Cerca de 8.500 árabes e 6.000 judeus morrem no conflito.
1977
Menachem Begin, antigo líder do Irgun e representante da direita israelense, é eleito primeiro-ministro de Israel e dá inicio à implantação de colônias judaicas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Ariel Sharon, então ministro da Agricultura, dirige o comitê ministerial encarregado da colonização.
1977-1979
Anuar Sadat, presidente do Egito, reconhece Israel; os dois países assinam um tratado de Paz e Israel devolve o Sinai ao Egito.
1982
Israel invade o Líbano e expulsa os militantes da OLP sediados no país. Sob o comando de Ariel Sharon, então ministro da Defesa, as tropas israelenses permitem que a Falange Cristã libanesa entre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila (que estavam cercados pelos israelenses) e realize o massacre de centenas de civis.
1983
Ariel Sharon renuncia ao cargo, após um inquérito israelense concluir que ele falhou em impedir o massacre.
1987
Primeira Intifada ou levante popular palestino contra a ocupação israelense. Nesse levante, mais de 1.000 palestinos morreram nos combates de rua, que se prolongaram até 1993.
1988
O Conselho Nacional Palestino, reunido no exílio, aceita a resolução da ONU de 1947, que prevê a divisão do território em dois Estados, renuncia ao terrorismo e propõe uma solução negociada para a crise.
1993
Processo de Paz de Oslo, no qual o governo israelense, agora comandado pelos trabalhistas Yitzhak Rabin e Shimon Peres, chega a um entendimento sem precedentes com a liderança palestina, que concorda em reconhecer o Estado de Israel em troca da retirada progressiva dos territórios ocupados.
1994
Arafat, que se encontrava exilado, volta ao território palestino; criação da Autoridade Nacional Palestina, como germe de um futuro Estado. Porém, o processo de paz já se encontra minado pela violência: um jovem colono judeu ultra-religioso abre fogo contra muçulmanos na mesquita de Hebron, matando 29 pessoas; na reação palestina que se segue, dezenas de judeus são mortos em atentados a bomba.
1995
O primeiro-ministro Yitzhak Rabin é assassinado por um judeu ultra-religioso.
1996-1999
Uma série de atentados suicidas cometidos por militantes islâmicos do Hamas e a retaliação israelense acabam enterrando o processo de paz. Shimon Peres perde as eleições para o direitista Binyamin Netanyahu, que reinicia a colonização judaica dos territórios palestinos.
1999
O trabalhista Ehud Barak se elege primeiro-ministro de Israel com a promessa de encerrar o conflito em um ano, mas as negociações entre palestinos e israelenses, patrocinadas pelos Estados Unidos, mais uma vez fracassaram.
2000
Num contexto de crescente frustração em relação ao processo de paz, Ariel Sharon volta à cena, entrando com um séquito de guarda-costas na Esplanada das Mesquitas, uma das áreas mais sagradas do Islã, onde se erguem o Domo do Rochedo e a mesquita de al-Aqsa. O gesto enfurece a população palestina, dando início à Segunda Intifada. Incapaz de controlar a onda de violência e impedir a desagregação da base governista, Barak renuncia, convocando eleições na expectativa de obter um novo mandato.
2001
Ariel Sharon vence as eleições.
2002
Num contexto de acirramento da violência e contando com a aprovação do governo americano de George Bush, Sharon desencadeia a ação militar "Muro de Defesa".
(Abril de 2002)
José Tadeu Arantes(Jornalista e colaborador em várias revistas de divulgação científica)

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