sábado, 29 de setembro de 2007

Jerusalém: O olho do furacão

Jerusalém: o olho do furacão
Jerusalém está no olho do furacão do conflito do Oriente Médio. Israelenses e palestinos a reivindicam como capital de seus respectivos países. Mas, enquanto a Autoridade Nacional Palestina, liderada por Iasser Arafat, aceita compartilhar a cidade com Israel, a direita israelense no poder, comandada por Ariel Sharon, não admite nenhuma forma de compromisso e declara Jerusalém a "capital indivisível" do Estado judaico. Procurando uma saída para o impasse, parte da liderança política e religiosa do mundo (inclusive o papa) propõe a internacionalização da cidade, conforme previa a resolução da ONU de 1947 (leia "A cronologia do conflito"). A proposição ganha legitimidade quando se leva em conta que, para além da conjuntura política imediata, Jerusalém fala ao coração de bilhões de pessoas em todo o mundo, pois é sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos.
Seus status religioso antecede a própria formação do judaísmo, uma vez que o Monte Moriá, situado no que é hoje a parte velha da cidade, já era um local de culto e sacrifícios pagãos antes mesmo que o patriarca Abraão (considerado o ancestral comum das tradições judaica, cristã e islâmica) migrasse de sua Mesopotâmia natal para a Palestina - episódio datado de maneira distinta por diferentes historiadores, mas provavelmente ocorrido entre 2300 e 1330 a.C.
Importante para os judeus - Foi ao Monte Moriá que se dirigiu Abraão, quando, segundo o relato bíblico, Deus lhe pediu que sacrificasse seu filho, Isaac. A suposta demanda divina, depois revogada por um anjo, foi interpretada pelos rabinos judeus como um teste à fidelidade do patriarca. E a prontidão com que Abraão se dispôs a atendê-la é até hoje exaltada pelos muçulmanos como a suprema expressão do islã - a submissão do homem à vontade de Deus. Pouco depois do ano 1000 a.C., quando já estava consolidada a realeza de Israel, foi exatamente nesse local, o Monte Moriá, no coração de Jerusalém, que o rei Salomão edificou o primeiro templo judaico.
Significativa para os cristãos - Destruído por Nabucodonosor, rei da Babilônia, que conquistou a cidade em 586 a.C., o Templo foi reconstruído séculos mais tarde, durante o governo de Herodes, o Grande - um judeu estrangeiro, aliado de Roma, proclamado rei da Judéia pelo senado romano no ano 40 a.C.. Nesse segundo edifício, cuja magnificência empalidecia a do primeiro, Jesus viveu alguns dos momentos mais intensos de sua vida, inclusive o célebre episódio em que expulsou os comerciantes e cambistas que infestavam o Templo, confrontando-se com o poder econômico e político da época. Trinta anos depois da morte de Jesus, a Palestina explodiu em levantes generalizados contra o domínio romano. A repressão a esse movimento insurrecional culminou, em 70 d.C., com a destruição de Jerusalém pelas legiões comandadas por Tito, futuro imperador de Roma. Do Templo, só restou uma parte da muralha exterior, o chamado Muro das Lamentações.
Relevante para os muçulmanos - Lugar de revelação Para os muçulmanos, que conquistaram a Palestina no ano 638 d.C, o Monte Moriá evoca, além da memória de Abraão, Salomão e Jesus, outro evento capital de sua tradição: a célebre "viagem noturna" do profeta Muhammad (Maomé). Diz a narrativa que o arcanjo Gabriel conduziu o profeta de Meca, na Arábia, até o topo do Monte Moriá, em Jerusalém, e, de lá, ao céu, onde Muhammad teve acesso aos mistérios divinos.
Nesse local, o mesmo onde ficava o Santo dos Santos, a área mais sagrada do templo judaico, os muçulmanos ergueram o Domo do Rochedo, considerado, depois das mesquitas de Meca e Medina, o principal edifício do Islã. Durante o conturbado período das Cruzadas, com o objetivo de guardar esse lugar privilegiado, nobres cristãos esotéricos criaram, no século 12, a ordem dos cavaleiros templários. Instalando seus alojamentos e cavalariças na mesquita de Al Aqsa, a algumas dezenas de metros de distância, os templários realizavam seus rituais secretos no interior do Domo do Rochedo, cuja cúpula dourada ainda domina a fascinante paisagem de Jerusalém.
(Maio de 2002)
José Tadeu Arantes(Jornalista e colaborador em várias revistas de divulgação científica)

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