domingo, 2 de setembro de 2007

As sete soluções radicais para o efeito estufa

NOTÍCIAS
Aquecimento Global – A revista VEJA em sua publicação de 30/12/2006, edição nº
1989, trouxe uma grande reportagem sobre este assunto, no qual enfatiza que o ano
de 2006 foi o ano em que a humanidade tomou consciência de que a crise ambiental
é real e seus efeitos, imediatos.
VEJA destaca que novas pesquisas científicas dissiparam a mínima dúvida de que o
aumento repentino da temperatura planetária se deve à ação humana, com escassa
contribuição de qualquer outra influência da natureza. Até os ecocéticos aceitam
agora a idéia assustadora de que o tempo disponível para evitar a catástrofe global
está perigosamente curto. Não há mesmo como ignorar o problema. Como uma
praga apocalíptica, as mudanças climáticas já afetam o cotidiano de bilhões de
pessoas de forma impossível de ser ignorada. Uma prévia do relatório anual da
organização Meteorológica Mundial, órgão da ONU que avalia o clima na Terra,
divulgada em dezembro, mostra que 2006 foi marcado por uma série de recordes
sombrios no terreno das alterações climáticas e das catástrofes naturais.
Pela primeira vez desde que começaram as medições, no século XIX, o termômetro
chegou aos 40 graus em diversas regiões temperadas da Europa e dos Estados
Unidos. A Somália foi castigada pelas enchentes mais devastadoras do último meio
século. A calota gelada do Ártico ficou 60.400 quilômetros quadrados menor – ou
seja, uma área equivalente a duas vezes o estado de Alagoas virou água e ajudou a
elevar o nível dos oceanos. Na China, segundo o relatório, a pior temporada de
ciclones em uma década resultou em 1.000 mortes e 10 bilhões de dólares em
prejuízos. Na Austrália, o décimo ano seguido de seca impiedosa agravou o
processo de desertificação do solo e desencadeou incêndios florestais com
virulência nunca vista. Sabe-se que o relatório final da Organização Meteorológica
Mundial, a ser divulgado em fevereiro, prevê o desaparecimento total do gelo no
Ártico durante os meses de verão já a partir de 2040. Isso pode significar a extinção
do urso-polar em seu habitat.
Todos esses transtornos são decorrência do aumento de apenas 1 grau na
temperatura média do planeta nos últimos 100 anos. Estudos estimam que, mantido
o ritmo atual, a temperatura média da Terra subirá entre 2 e 4,5 graus até 2050. O
debate científico não é mais sobre em que momento dos próximos cinqüenta anos o
aquecimento global se abaterá sobre nosso pobre planeta, mas sobre como escapar
da arapuca que nós próprios armamos para as futuras gerações. É universalmente
aceito que, para evitar a piora da situação, seria preciso parar de bombear na
atmosfera dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Esses gases, resultantes da
atividade humana, formam uma espécie de cobertor em torno do planeta, impedindo
que a radiação solar, refletida pela superfície em forma de calor, retorne ao espaço.
É o chamado efeito estufa, e a ele cabe a responsabilidade maior pelo aumento da
temperatura global.
Diante desse quadro sombrio, ganha impulso entre cientistas e políticos a idéia de
que ações pontuais, por mais bem intencionadas, podem não ser suficientes para
estancar o aquecimento gradual da Terra. Por sua magnitude, problemas globais
exigem soluções também globais. Ou seja, intervir nos processos que causam o
aquecimento do planeta é uma tarefa demasiadamente complexa para ser resolvida
com o esforço individual das nações. Ainda mais quando se sabe que nenhum país
conseguirá diminuir drasticamente as emissões de dióxido de carbono (CO2
), o
principal vilão do efeito estufa. Isso significaria frear o ritmo de suas indústrias e
usinas termelétricas., acarretando enormes prejuízos à economia. Os cientistas que
defendem as soluções globais para o aquecimento da Terra avaliam que só com
idéias que envolvem um esforço mundial se poderá reduzir o problema.
Vários megaprojetos para amenizar o efeito estufa saíram de universidades e
centros de pesquisa nos últimos anos. VEJA selecionou as sete soluções de maior
viabilidade técnica e que tiveram melhor repercussão na comunidade acadêmica.
São abordagens radicais, mas podem ser a única saída para uma situação de
emergência. Cinco delas são fruto de uma corrente científica relativamente recente
chamada geoengenharia. Os adeptos miram num cenário em que sejam
necessárias medidas urgentes para diminuir a temperatura da Terra rapidamente e
interromper, ou evitar, seqüência de catástrofes. A geoengenharia parte de um
princípio simples: para deter o efeito estufa, é preciso fazer com que menos raios
solares cheguem à terra. Assim, compensa-se o calor extra provocado pela “tampa”
de CO2 e outros gases tóxicos lançados na atmosfera pela ação humana. Os
cientistas alinhados com a geoengenharia admitem que seus projetos para “esfriar”
a Terra parecem fantasiosos e radicais por suas dimensões, mas foram todos
concebidos para ser exeqüíveis. Em caso de emergência climática, a aplicação de
um ou mais desses projetos pode ser a única forma de salvar a humanidade e o
planeta que a abriga. “Se dobrarmos a quantidade de CO2 em relação à da era préindustrial
e não tivermos o problema sob controle, talvez seja preciso lançar mão
dessas soluções. É necessário ter essa carta na manga para o caso de uma crise
planetária”, disse a VEJA John Shepherd, Diretor do Centro Tyndall, da Inglaterra,
instituto que pesquisa mudanças climáticas.
A seguir, as sete soluções radicais para o efeito estufa:
Projeto 1 – Trocar o carvão pelo átomo.
A proposta é substituir 300 usinas termelétricas atualmente planejadas no mundo
por usinas nucleares.
Ponto positivo: Numa cidade de 5 milhões de habitantes, substituir energia de
termelétricas por energia nuclear representaria uma diminuição de 22% nas
emissões de CO2. O lixo radioativo, por sua vez, não afeta o clima do planeta.
Custo: 480 bilhões de dólares
Tempo de implantação: cerca de 50 anos
Ponto negativo: Gerará 263 toneladas de lixo radioativo por ano. Ainda não se
descobriu uma forma totalmente segura de descarte deste lixo, mas pode-se
pesquisar formas de processá-los.
Projeto 2 – Enterrar os gases tóxicos
A proposta é armazenar sob o solo todo o dióxido de carbono (CO2) – o gás que
gera o efeito estufa – produzido por indústrias e usinas termelétricas. Numa
metrópole como Nova York, isso significaria deixar de lançar na atmosfera 32
milhões de toneladas de CO2, ou 36% das emissões anuais na cidade. O
aterramento de CO2 já está em fase de testes nos Estados Unidos e na Noruega.
Ponto positivo: A capacidade da crosta terrestre de armazenar CO2 é de 10 trilhões
de toneladas, o equivalente a 400 anos de emissões nos níveis atuais.
Custo: entre 900 bilhões e 1,8 trilhão de dólares
Tempo de implantação: Já está em fase de testes
Ponto Negativo: Risco do gás voltar à superfície
Projeto 3 – Colocar refletores de calor em órbita
Patrocinado em parte pela Nasa, a agência espacial americana, o astrônomo Roger
Angel concebeu o projeto de colocar no espaço trilhões de pequenos discos
espelhados de 60 cm de diâmetro cada um para desviar parte dos raios solares que
atingem a Terra. Os discos, equipados com painéis solares, seriam transportados
por 20 milhões de pequenas espaçonaves. As naves seriam lançadas de pontos
elevados da Terra e levariam 1 milhão de discos em cada viagem. No espaço, os
discos formariam uma nuvem de 100.000 quilômetros de extensão e permaneceriam
em órbita no ponto conhecido pelos astrônomos como L1, em que a gravidade do
Sol e a da Terra se encontram equilibradas.
Ponto positivo: A nuvem de discos reduziria em 2% a quantidade de raios solares
que incidem sobre a Terra. Isso deteria o avanço do efeito estufa mesmo que a
quantidade de CO2 produzida no planeta dobre nas próximas décadas.
Custo: 3 trilhões de dólares
Tempo de implantação: 25 anos
Projeto 4 – Pôr um guarda-sol no espaço
Físicos americanos do Lawrence Livermore National Laboratory propõem colocar em
órbita um gigantesco escudo redondo para bloquear parte dos raios solares que
chegam à Terra. O escudo teria de ser montado no espaço, talvez no laboratório
que a Nasa planeja instalar na Lua em 2020. Sua órbita poderia ser modificada de
tempo em tempo para bloquear os raios solares em pontos escolhidos do planeta.
Ponto positivo: O escudo conseguiria desviar de 1 a 3% dos raios solares que
atingem a Terra, eliminando o efeito estufa por várias décadas. Segundo os
idealizadores do projeto, a diminuição da incidência de raios solares ainda geraria
para o planeta uma economia de 1 trilhão de dólares por ano. Essa economia seria
conseqüência do aumento da produtividade na agricultura e da redução do número
de casos de câncer de pele causado por raios ultravioleta.
Custo: 5,5 trilhões de dólares
Tempo de implantação: 30 anos
Projeto 5: Espalhar enxofre na atmosfera
O meteorologista holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel em 1995 por
demonstrar como a camada de ozônio vinha sendo destruída pela ação humana,
defende a idéia de bloquear parte dos raios solares que chegam à Terra espalhando
dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera.
O SO2, em forma de gás, seria levado por balões até uma altitude de 25 quilômetros
do solo terrestre. Na seqüência, o gás se oxidaria, gerando ácido sulfúrico, que se
agruparia em partículas. Estas desceriam até a altitude de 11 quilômetros e se
espalhariam pelas nuvens com a ajuda do vento. As partículas refletiriam parte da
luz solar de volta para o espaço.
Ponto positivo: A temperatura média da Terra pode cair meio grau. Como o efeito
estufa tornou o planeta 1 grau mais quente no último século, teoricamente suas
conseqüências – como secas, enchentes e furacões – se fariam sentir em menor
escala.
Custo: Entre 25 bilhões e 50 bilhões de dólares
Tempo de implantação: 20 anos
Ponto negativo: ainda não foi comprovado que o enxofre não afete a camada de
ozônio
Projeto 6 – Multiplicar o fitoplâncton
A estratégia idealizada pelo centro americano de pesquisas marinhas Moss Landing
Marine – e já testada com sucesso em pequena escala – é adicionar ferro aos
oceanos para “fertilizá -los” e estimular o crescimento do fitoplâncton, conjunto de
algas microscópicas que vivem na água. Essas algas absorvem parte do CO2 – o
gás causador do efeito estufa – da atmosfera.
Centenas de embarcações espalhariam ferro, em forma granulada, por vastas áreas
dos oceanos. O fitoplâncton, assim como as plantas, usa a luz solar, o CO2 e a
água para processar a fotossíntese e se desenvolver. Ao morrer, afunda até o solo
do oceano, levando junto parte desse CO2 que permanece submerso por séculos.
Ponto positivo: Nos testes realizados pelo centro Moss Landing Marine, em 2002, o
ferro foi espalhado em duas áreas de 15 quilômetros de extensão próximo ao Pólo
Sul e depois se dispersou com as correntes marítimas. Estudos posteriores
mostraram que o fitoplâncton resultante da experiência proliferou por milhares de
quilômetros e consumiu 30000 toneladas de CO2 – o equivalente à emissão de
6.000 automóveis em um ano. Para realizar o procedimento em escala global,
bastaria espalhar o ferro por mais pontos nos oceanos.
Custo: Entre 10 bilhões e 100 bilhões de dólares
Tempo de implantação: 3 anos
Ponto negativo: Em todos os testes, parte do ferro adicionado à água se dispersou
com as correntes marítimas e a proliferação do fitoplâncton foi temporária. Por
enquanto, os cientistas afirmam não haver garantia de que, no futuro, o CO2 retido
no solo marinho não seria liberado de volta à atmosfera. Tampouco se conhece o
impacto ambiental que a adição de ferro aos oceanos teria a longo prazo.
Projeto 7 : Colocar mais água nas nuvens
O projeto do National Center for Atmospheric Research, dos Estados Unidos, em
parceria com a Universidade de Edimburgo, na escócia, consiste em pulverizar as
nuvens sobre o oceano com gotículas de água salgada para aumentar sua
capacidade de refletir os raios solares. Dessa forma, menos calor do sol alcançaria
a Terra, atenuando o efeito estufa.
Cerca de 500 embarcações se encarregariam da pulverização contínua das gotas de
água salgada em nuvens do tipo estrato-cúmulo, que cobrem quase um terço da
superfície dos oceanos. Para localizar as nuvens mais adequadas, as embarcações
contariam com a ajuda de satélites. O sistema de pulverização ainda não está
definido, mas provavelmente seria semelhante ao dos nebulizadores usados em
medicamentos.
Ponto positivo: A capacidade das nuvens de refletir a luz do sol de volta para o
espaço seria aumentada em 1,5%. Isso provocaria um resfriamento na Terra
suficiente para anular o efeito estufa mesmo que as emissões de CO2 continuem
crescendo nas próximas décadas.
Custo: 1 bilhão de dólares
Tempo de implantação: 4 anos
Fonte: VEJA – 30/12/2006 – edição 1989 – ano 39 – nº 52
Okky de Souza e Leoleli Camargo

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